domingo, 26 de fevereiro de 2012

Tempestade de verão


 
Hoje o dia foi tranquilo no trabalho, uma quarta feira sem grandes expectativas, não tinha nada programado, então pensei em passar no supermercado comprar talvez uma massa e uma boa garrafa de vinho e enjoy!!!
  Faltava pouco mais de meia hora pra eu ir embora e uma tempestade se armava bem em cima da minha cabeça, ou eu saio agora ou tô ferrada, pegaria toda aquela chuva, trânsito e até semáforos apagados, isso sempre acontece nas tempestades de verão por aqui.
  Assim eu fiz desliguei meu computador, peguei a bolsa e desci para pegar meu carro no estacionamento. Detalhe, o estacionamento fica a dois quarteirões daqui, é quase inacreditável mas é verdade, um prédio de 18 andares no centro da cidade sem estacionamento.
  Ao chegar a porta do prédio, o céu ainda mais escuro, ventania e eu não era a única correndo pela rua. Correndo??? Tentando andar pelo menos rapidamente, o tanto que meu salto alto permitia. Ao virar a esquina BUM começou o temporal, uma chuva tão forte que não dava pra seguir em frente, olhei pro lado e vi um toldo de uma loja ou coisa assim logo a minha frente, fui até ele e percebi ser um bar ou café.
  Entrei, sentei no balcão, ensopada. Pronto, em menos de 10 minutos todos meus planos tinham ido por água a baixo, literalmente falando. E agora eu estava ali sem ter idéia de quando poderia ir pra casa.
  Como eu nunca tinha visto esse lugar??? Eu passava ali todos os dias! Até que era aconchegante, estava vazio. Vazio por que todos tinham ido embora correndo da chuva? Ou vazio por que o horário de movimento era mais tarde? Ou vazio por que talvez nem funcionasse mais? Afinal eu já estava ali há uns minutos e nada de ninguém aparecer.
  Fui até a porta para ver se já poderia ir ao estacionamento, aquele lugar estava começando a me deixar nervosa, mas quando me aproximei, alguém a abriu. Se levei um susto? Claro que levei, deixei cair minha bolsa, as chaves, tudo.
  Mas a pessoa, me pediu desculpas e entrou, era um homem alto, deveria ter minha idade ou pouco mais. Me pediu novamente desculpas, e disse que não queria me assustar. Pude ver que a chuva não tinha passado, só parecia piorar. Então voltei para o balcão, vazio.
  Perguntou se podia sentar-se ao meu lado, já sentando, tocou uma campainha que tinha no balcão, de uma porta saiu uma moça meio carrancuda, me perguntou o que eu queria, ele então respondeu 2 expressos daqueles grandes  e caprichados.
  Ele se apresentou, perguntou meu nome e se eu estava ali fugindo da chuva. Respondi em poucas palavras. Mas ele estava determinado a puxar papo. Começou a me contar que tinha acabado de chegar na cidade que tinha morado por 5 anos fora, mas que um dia se perguntou se queria continuar em outro país que não fosse o seu e não sabia a resposta! Não se lembrava mais de por que tinha ido pra lá, e nem ao menos se queria ficar! Era hora de voltar! Pensar, reavaliar, voltar ao princípio e encontrar novo caminho (palavras dele), ele ficou ali contando e eu ouvindo.
  Ouvia com atenção, dei risada, me emocionei, me encantei com a história daquele desconhecido. Ele sabia entreter, é fato.
  Mais um expresso, mais uma passagem da vida aventureira. Aventureira, algo que eu nunca fui, ou nunca me permiti ser.
  Prestava atenção em suas mãos, no seu jeito de falar, no jeito que passava as mãos no cabelo, no perfume... o que mesmo eu estava fazendo ali? A chuva, o supermercado, é mesmo, tudo parecia tão sem importância. Ele percebeu, por que me perguntou se eu estava preocupada com alguma coisa, se tinha algum compromisso, se estava atrasada.
 Sim, estava. Atrasada para vida, atrasada para minha própria vida.
 A porta novamente se abriu alguém entrou, vi a rua, a chuva tinha parado. Nossa! Quanto tempo estávamos ali? Horas talvez!
  Tipicamente eu, levantei disse que tinha que ir embora. Procurei pela moça queria pagar meus expressos, mas ele não deixou disse que fazia questão. Agradeci e fui, sem dar tempo para despedidas.
   Cheguei no carro, ainda envolvida por tudo aquilo. Pensei e amanhã quando eu passar por aqui vou olhar pra dentro do bar/café e procurá-lo? Me arrepender? Não!
 Fiz rapidamente o retorno, eu conhecia todo aquele bairro como a palma da minha mão!
 Em poucos minutos estava em frente ao bar/café e ele na porta, saindo, parei o carro, desci o vidro, e agora? Não sabia o que iria falar, mas então ele disse tudo com um sorriso!!!
O mais encantador dos sorrisos!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Existe amor em SP?




Existe, é claro que ele existe.


Ás vezes se encontra espremido entre os arranha céus, entre as lotadas padarias. Esperando um tempinho entre um semáforo e outro. Correndo pra não perder o metrô!


Ás vezes ele se perde nos retornos, mãos e contra mãos de tortuosas ruas e avenidas da cidade confusa! Perde a hora por conta da 23 de Maio parada, tenta em vão a Marginal pra ganhar tempo, mas não sai do lugar! Então liga o radio e acende um cigarro, o que lhe resta é esperar!


Ele resiste aos prazos, aos horários, agüenta firme cada segunda feira, dá esperanças na quarta e surge mais forte do que nunca na sexta. Pra tomar conta de 2 dias só seus!


Ele surge num cruzamento da barulhenta Faria Lima, numa mesa de um barzinho aconchegante na Madalena, corre por toda Paulista, e pára na Radial ás 18h!


Surge num olhar, num sorriso, em uma simples gentileza, ou num esbarrão desastrado que derruba todos aqueles mil papéis na sua mão!


Tem pressa na cidade que corre, muitos vem e vão, muitos passam por ele sem nem notar, sua ilustre presença. Sorte daqueles que o percebem ali, sorte daqueles que são percebidos por ele. Sorte daqueles que por um dia, um mês, 10 anos, o resto da vida convivem com ele, o conhecem e se deixam conhecer!


Sim ele existe, nasce, cresce, borbulha e ferve, nos faz suspirar, perder a cabeça, a razão, os horários, o metrô, errar os retornos, e achar lindo o congestionamento de 110km numa sexta feira quente de fevereiro. Trazendo cores para a cidade cinza, música para a sinfonia de buzinas, e sorrisos na correria!!!


Definitivamente existe amor em SP!